LIVROS | Para onde vão os guarda-chuvas, Afonso Cruz (PARTE II)

Com licença,

Na parte I fiz uma breve apreciação, através também da apresentação da maioria das personagens desta história, sem aprofundar nem desvendar muito a trama, para não estragar a surpresa a quem ainda não o leu. 

Mas queria também registar as minhas partes/frases favoritas do livro, à semelhança do que já fiz anteriormente, uma espécie de "O que aprendi com Afonso Cruz".

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O que apresento aqui são excertos/citações, catalogados segundo a minha leitura e  interpretação
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de baixo para cima/ de cima para baixo
"Os telescópios não servem para aumentar as estrelas, mas para diminuir o ser humano. São máquinas de nos fazer pequenos. 
As estrelas somos nós,
Quando Alá nos observa, é como quando nós olhamos para o Céu 
o que Ele vê são luzes. Cada homem é uma vela a brilhar no escuro
é assim que Ele consegue ler à noite."
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(51) "Com licença, que mundo é este em que tudo cai, em que os pentes ficam cheios da nossa morte, da nossa cabeleira? Para onde vai a nossa juventude, querida Bibi? Escorrega-nos pelas pernas abaixo, ficamos todos pendurados, os olhos descaídos, a alma descaída, o sexo adormece a apontar para o chão. Nada aponta para cima quando envelhecemos. "
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(273) "Isto - e fez um gesto largo com o braço para indicar tudo o que os rodeava -continua. Um homem não pode parar todo dobrado sobre si mesmo. Tem de se erguer na vertical, porque esse é o seu caminho, é para cima (...) para chegar ao céu com a nossa cabeça (...) por isso é que a erguemos, por isso é que a usamos acima de todas as coisas."
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(403) (...) Isa já não estava feliz, já tinha os cantos da boca a descair, a fazer favores à gravidade (...)"
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(497) "Sim, primo, e até digo mais. Quando nos deitamos debaixo daquela cerejeira, é ela que nos impede de ver o céu. É como toda a religião."
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(...) "agora é como se andasse em cima de um barco, vê o alto da cabeça de toda a gente como se fosse Alá e toda a gente lhe vê as narinas (...) o sucesso na vida resume-se a dois buraquinhos com pêlos, um ao lado do outro."


de dentro para fora/ de fora para dentro
(241) "Disse Tal Azizi:






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"O interior dos chapéus é a parte mais importante do chapéu."
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"É isso que fazemos às pessoas de quem gostamos, recortamo-las do resto do mundo (...) A adoração era fruto de uma tesoura."
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(137) "Cada coisa que existe neste mundo é transparente, mas nós teimamos em vê-las opacas. As coisas são janelas de vidro, que dão umas para as outras, uma para dentro das outras". (Badini)
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"O sangue é a cor da desgraça, pensou Naveeda, é a cor da morte, nem sei porque é que quando morre alguém nos vestimos de preto, devia ser de vermelho, que é o corpo do avesso."

sofrer

"Alá emaranhou os fios do mundo num tapete cujo padrão ninguém percebe."

"Alá criou o infinito para os filósofos e uma despensa para mim (...) Os dias esticam e ficam mais longos (...) o tempo demora mais a passar, muito mais, é assim que se sofre. Quando se está feliz, esse mesmo tempo passa a correr, parece que vai atrasado para uma festa mas, se vê uma lágrima, pára e fica a ver o acidente, dá voltas à nossa desgraça e não anda para a frente como os relógios dizem que ele faz."

(552) "Como seria possível que a tradução daquilo que se passava dentro dele fossem apenas umas quantas lágrimas. Que coisa tão mal feita, pensava.Com tanto sofrimento, com licença, deveríamos chorar estrelas, para mostrar como tudo o resto é pequenino."

tudo desaparece
(125) "É muito importante que decoremos este livro. Se o fizerem desaparecer (e tudo desaparece) ele permanecerá dentro da nossa carne." (*)

(397) 
"- Se apagarem as tuas pegadas, Isa, eu gravo-as em pedra.
 - E as pedras, baba, não morrem? Não desaparecem? 
 -Então Isa, gravamos as tuas pegadas numa oração (...) e se isso não funcionar, gravamos as tuas pegadas no meio da estupidez humana, pois isso é coisa para durar até ao fim dos tempos."


(*) referência a uma leitura, curiosamente, recente, o Fahrenheit451


no worry, no hurry, chicken curry
~ até breve


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