LIVROS | O MEU IRMÃO, AFONSO REIS CABRAL

    Há vários meses que tinham muito interesse em ler os dois romances do ARC. Ouvir entrevistas em podcast e no documentário sobre a viagem dele na N2, alimentou ainda mais a vontade e atração que tinha. Saber que ele nasceu 2 meses antes de mim, no mesmo ano, trouxe-me ainda mais um vontade grande de perceber o que alguém da minha idade conseguiu fazer, a conquista da atenção do público, com atribuição de mérito com prémios (o Leya em 2014 com este livro e depois mais tarde, em 2019 o prémio literário José Saramago, com o Pão de Açúcar).

 

Sobre O meu irmão

Passa-se no Tojal, presente e no Porto, passado. É a história do narrador e do irmão um ano mais novo, o Miguel, de 40 anos anos, com Síndrome de Down. Os pais faleceram e o momento de decidir quem fica com a guarda do Miguel não é o foco da narrativa mas é um ponto decisivo. 

Não encontram um relacionamento amoroso, inspirador de alguma forma. Há a frieza, crueza, de um irmão que precisa de se sentir "melhor", de se sentir válido, útil, importante. Uma espécie de solitário egocêntrico, que precisa de se sentir de alguma forma amado. E por isso, resgata o irmão, que precisa de ficar com um adulto responsável, para si.  

Bem, pelo menos é esta a minha interpretação desta relação dos irmãos e das intenções e sentimentos do narrador. 

Ainda que possa parecer triste e oportunista, acho que toca um pouco a todos, há um lado nosso mais cru e frio que se pode ver refletido nesta história. Pessoalmente, consigo relacionar-me, como o cuidador e com a relação de irmãos em sim, mais genérica, por também ser irmã. (Faz-me pensar que uma relação de irmãos/irmãs pode ter particularidades muito interessantes, que se calhar não se repetem noutro tipo de relações, e que começam com a partilha do amor dos nossos pais - há uma competição intrínseca por atenção).


Em relação ao desfecho, os últimos capítulos parecem conduzir-nos para uma história paralela. Deixou-me um sabor agridoce. Não era o que imaginava, mas, depois de começar o fim, não desgostei de todo da forma como foi conduzido. (Também pode ser interpretado de forma metafórica...). De qualquer forma,  também não gosto de interpretar e basear a opinião sobre uma história com base nos finais, mas pelo processo. Mesmo que o fim possa causar estranheza, todo o processo é muito, muito bom.


Não vou alongar muito mais, porque retira o sabor da leitura da primeira vez. 

classificação: 4.8/ 5

Por aí, já alguém leu ? Que acharem?


            ~até breve


side note: não tem nada que ver, é só uma coincidência (não consigo ignorá-las). Depois de ler este livro, vi um filme que andava há imenso tempo para ver e calhou ser na mesma altura, sem pensar nisso. Chama-se "Peanut Butter Falcon" e é a história de 3 pessoas que se juntam por acaso, uma delas com Síndrome de Down. É um bom filme (muito querido, engraçado) e acho que foi uma boa coincidência vê-lo depois deste livro. Para mim serviu para aquecer um bocadinho mais o coração e, por outro lado, deixar crescer por mais tempo a história"O meu irmão" cá dentro. Fica a sugestão de cinema extra :)

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