LIVROS | Jalan jalan, Afonso Cruz (parte II)

Estive a pensar que, na verdade, isto nem sequer é uma reflexão crítica pessoal do livro, mas mais um: "O que aprendi com Afonso Cruz (e com todos os filósofos, pensadores, poetas, cientistas que o inspiraram)"





Sobre o Conhecimento e Felicidade

(166) Aquilo que tem significado para nós é um excepção, é uma raridade (ex. baralhar as cartas e encontrar uma sequência numérica que faça sentido). Aquilo que não compreendemos, aquilo que não tem significado aparente, é muito mais comum e omnipresente. 

(412) "Para ser feliz", responde ela. E não há pergunta nenhuma depois dessa, porque a felicidade é o penhasco de todas as perguntas, discussões. Todas as perguntas se atiram ao mar depois de um "Isso faz-m feliz", que destrói todos os argumentos. 


(469) A felicidade parece ser mais um ausência de desconforto do que um sucesso apoteótico (...) se fossemos todos um pouco mais infelizes seríamos todos muito mais felizes. 


(322) A linguagem criou a palavra "solidão" para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho." (Tillich)


(640) (...) ao nos sentirmos esmagados pelo que vemos, há um desvanecimento do ego e consequente sensação de que somos parte de um todo vasto e sublime. Este assombro é mais poderoso do que a experiência religiosa ou mística (artigo da revista New Scientist). 

As pequenas coisas, o "desimportante", podem assombrar-nos (...) porque olhar para uma formiga também nos faz pequeninos, também é capaz de reduzir a soberba , dissolver-nos o ego e fazer sentir parte de um todo. 



Sobre rir e chorar

(488) As lágrimas são o verdadeiro veículo da alegria. Ao contrário, o riso pode ser uma arma e servir de insulto. Não podemos fazer isso com o choro, que não presta como arma nem insulto. 



Sobre ser criança

(332)  Ao perder a curiosidade da criança, os adultos substituem-na pela arrongância de quem já sabe tudo.


(84) As crianças naturalmente ajudam a fazer boas ações, sem esperar nada em troca (experiência de Felix Warrneken e Michael Tomasello). Se prometermos uma recompensa, o esforço é semelhante, mas a partir desse momento esperam sempre por uma recompensa e já não s esforçam altruisticamente. A recompensa material corrompe a bondade inata.


(178) A força do ser humano não se encontra no seu nascimento,, mas no que irá adquirir ao longo dos anos através da cultura e da educação. Nascemos incompletos, inacabados. Somos uma promessa.



Sobre a música e dança

(38) Para os mevlevi, dançar é uma forma de rezar, a mais eficaz, pois é feita com o corpo todo a desenhar o modo como Deus caminha, aos círculos. 


(160) Empédocles curava através da música, melancólicos profundos e loucos (...) Mas depois de ela (música) passar, porque tudo passa, Heráclito e outros melancólicos voltaram a sentir a penumbra da depressão e da amargura. Agora com mais razão ainda, uma vez que a música se calou.


(114) "A matemática e a música são exatamente a mesma coisa" (Agnese Guzman). O problema é que a música, na sua manifestação, provoca catarses, faz dançar, faz chorar, faz pular. É de uma irracionalidade estonteante. Pode ser razão na teoria, mas é irracional nos seus efeitos. 



Sobre o Passado e o Futuro

(118) O tempo é o que impede as coisas de acontecerem todas de uma só vez. (Ray Cummings)
Graças ao tempo e à sua complexidade crescente, entre o início do universo e o seu final, há um labirinto imenso a percorre. Sem isso, o final aconteceria no próprio instante do início. 


(110) O passado é como uma resposta, fixo, mas o futuro porta-se como uma pergunta e encerra inúmeras possibilidades. Devemos estar cientes das trocas que fazemos a todo o instante, converter perguntas em respostas, possibilidade em certeza, futuro no passado (...) Há um empobrecimento intrínseco ao tempo, na medida em que converte a riqueza de inúmeros caminhos em apenas um só. Mas não nos importamos (...)



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Boas reflexões
Até breve

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