Estante Cápsula | Dia Mundial do Livro

Pronto, acabei de descobrir há bocadito que hoje é o Dia Mundial do Livro.
É um bom pretexto para vir aqui escrever.

Descobri, pelo blog da Rita da Nova, um desafio que Andreia, por sua vez, lançou no seu blog e achei giro, nunca fiz, vou experimentar.

~ Por acaso achei gira a coincidência de ambas escolherem um autor português que também é um dos meus favoritos (: ~

A premissa do desafio é esta:
(...) Mudas de casa. E na tua estante nova só tens espaço para ter quatro autores e três livros. Quais escolhes? E foi com esta inocência que nasceu a Estante Cápsula, cuja missão consiste em levar-nos a observar as prateleiras da nossa biblioteca [física, digital ou emocional], refletindo sobre os nossos autores favoritos e os livros - de escritores diferentes - que nunca seríamos capazes de abandonar.

Então pronto, para começar, este desafio fez-me descobrir umas coisas:

-não compro muitos livros - requisito MUITO, nas bibliotecas/peço emprestado
-às vezes compro e troco por outro /devolvo, excepto quando gosto mesmo muito e os considero "favoritos" e quero "tê-los para mim, sempre" (aquela coisa mesmo possessiva)
- a maioria dos meus livros comprados, que tenho comigo (ou seja, os tais "favoritos") são de autores portugueses - nunca tinha reparado nisso! 
(also: tenho péssima memória, há imensos livros que li e adorei que se me perguntarem sobre a história, não se explicar nada de jeito:( )



Estive a pensar nos que tenho cá em casa e outros que li, adorei mas não comprei. Aqui vai.





QUATRO AUTORES 

Afonso Cruz 
O primeiro livro que li do Afonso Cruz, em 2017 ou 2018, marcou o meu "regresso" à literatura depois de uma anito ou quê sem ler tanto.... Foi o "O pintor debaixo do lava-loiças", emprestado por uma amiga que me super recomendou e já acompanhava a obra dele. É um livro delicioso e depois de já ter lido "Para onde vão os guarda-chuva", "Jesus Cristo bebia cerveja","O princípio de Karenina", "O macaco bêbedo foi à ópera" e o bíblico "Jalan jalan", continuo a achar que o Pintor foi e é o melhor livro para uma iniciação de Afonso Cruz. Não tenho palavras novas para descrever a escrita dele, já tudo se diz por aí; é uma escrita única, muito estética e poética, inteligente e enigmática por vezes. Para além disso, o livro infantil "O livro do Ano" , as ilustrações dele... são fantásticas :)
Ainda me faltam ler alguns dele, mas sem dúvida que AC foi a minha descoberta mais incrível dos últimos 3 anos e acho que é uma relação amorosa a manter :D
~Livro favorito: Para onde vão os guarda-chuvas / O pintor debaixo do lava-loiças


João Tordo 
João Tordo é também para mim uma descoberta de poucos anos. 
Não sou a maior conhecedora de JT: li 3 dos seus livros ("As três vidas", "A mulher que correu atrás do vento" e "Ensina-me a voar sobre os telhados") e decidi mesmo comprar dois destes porque... lá está, deve ser aquela coisa mais "possessiva" e orgulho patriota também, talvez! Quero continuar a descobrir mais de João Tordo, e acho que mais coisas lindas dele ainda estarão para vir, por isso escolho-o para a minha cápsula :D
~Livro favorito: Ensina-me a voar sobre os telhados


Gonçalo M.Tavares
Comecei a ler as histórias dos Bairros I e II,  através Biblioteca Municipal de São João da Madeira que tinha praticamente todos os volumes. Na altura não comprei nenhum, se calhar andava a poupar dinheiro ou assim, mas apesar de não ter nada do autor comigo em casa, é definitivamente um autor que compraria de imediato para levar na minha cápsula. Sei que houve um em particular que não gostei, mas a maioria dos Senhores são tão engraçados! Não sei montar as histórias, tenho memórias vagas, mas lembro-me de devorar alguns dos "Senhores" do bairro e de estar fascinada! 
Também tenho boas referências dos livros de viagem dele, como "Uma viagem à Índia, mas nunca li
~Livro favorito (se a memória não me falha): A Máquina de Joseph Walser


Valter Hugo Mãe
Bem , VHM não foi uma escolha óbvia para mim. O motivo para isso é que já tentei ler VHM e não fui capaz - Desumanização, por exemplo - mas tem três livros (dos seus quatro primeiros romances, a tetralogia das minúsculas) para mim sublimes, onde se inclui "a máquina de fazer espanhóis", que comprei alguns anos depois de o ler, mas ainda não o reli; li também "o remorso de baltazar serapião" e "o apocalipse dos trabalhadores" (falhei o primeiro "o reino").
~Livro favorito: A máquina de fazer espanhóis



TRÊS LIVROS
Constato que são todos livros transformadores/melancólicos/tristes/depressivos, se calhar tenho que experimentar coisas novas, comédias ou assim ahaha

Veronika decide morrer, Paulo Coelho
Nunca gostei de nada do PC, alquimistas etc, não sei, nunca consegui (se calhar era muito nova quando tentei, não sei). 
Mas em 2018, acho eu, encontrei este livro abandonado. Esta história da Veronika é incrível. O suicídio, a sociedade, a família, são retratados e entrelaçados de uma forma incrível. Prendeu-me do início ao fim. É triste, reflexivo e lindo. E é uma história para "se levar". 


A metamorfose, Franz Kafka
Acho que já li umas duas ou três vezes, já tudo se disse e sabe do estilo da obra kafkiana, principalmente sobre este clássico..  
Quando visitei o Museu sobre a sua vida em Praga, quando percebi melhor a sua vida - os amores e desamores, mas também o sofrimento, a sua doença, que o levou a uma morte prematura -  fez-me ainda mais sentido, senti uma espécie de ligação, de pertença e de entendimento brutal. 


A lua de Joana, Maria Teresa Gonzalez
Sim é verdade que a Gonzalez é autora de livros infantis e romances juvenis. 
Opa eu sei que este livro é um cliché enorme de leitura de adolescentes, mas foi tão forte, li tantas tantas vezes, senti tanta dor.. Acho que identificava tanto com a Joana, acho que posso dizer, refletindo agora, desenvolvi uma relação de amizade com a personagem. Acho que foi a primeira vez senti a dor da leitura (ou foi com "O Poeta (às vezes)", da mesma autora, de uma coleção de adolescentes que devorei).  Li com dor e empatia, e sei lá ... Nunca mais o li, há muito anos, não sei, mas tem um valor sentimental enorme. Sempre que mudo de casa, tem que vir também claro.




PERGUNTAS DE BOLSO

1. Para acompanhar a leitura...
... uma mantinha a aconchegar (se for propício) e, dependente do mood e do próprio livro, musiquinha ambiente a acompanhar.

2. Sublinhar livros?
Não, aponto as frases que gosto ou tiro fotos.

3. Uma personagem para tomar café?
(spoiler alert)
Talvez o Portuga, de "O meu pé de laranja lima", antes de ele morrer (senão, em alternativa, o Zézé)

4. Team marcador de livro 
Ou qualquer coisa serve para marcar a página?
Qualquer coisa serve, mais ou menos, costumam ser papéis +- importantes que estão à mão e não vão para o lixo.

5. Um livro para reler?
Tantos! Por fazer este desafio, agora tenho vontade de reler os Senhores dos Bairros, do Gonçalo M.Tavares.

6. Um livro que te acompanha da infância?
Os livros da saga do Harry Potter, claro :) lidos e relidos no mínimo umas 8 vezes, volta e meia volto a eles.

7. Na mesa de cabeceira tenho...
... Oráculo da Noite (Sidarta Ribeiro)- é um livro de ciência, sobre a mente humana e sonhos.



Nota final
Eu acho mesmo que, gostarmos muito, pouco ou nada de um livro/autor não tem que ver única e exclusivamente com o livro em si, mas muito mais com o sítio em que nos encontramos, quando o lemos: a nossa idade, maturidade, mas mais até do que isso: a nossa disponibilidade (mental, acima de tudo), a nossa flexibilidade e  elasticidade cognitiva, a tolerância, assim como a vontade e fome de literatura (boa!). E, em última instância, os livros que escolhemos ou não ler (com tantos livros no mundo, por algum motivo, mais lógico ou por meras coincidências, decidimos ou não ler aquilo que lemos; funny!)
Por isso, todas as minhas escolhas aqui podiam ser completamente ao contrário, nada que ver, se tivesse lido noutros momentos da vida ou se tivesse tido outra experiências, encontros, felicidades ou infelicidades. 
Já pensaram nisso?





Até breve, 
Boas leituras

Comentários

Andreia Morais disse…
Que surpresa tão boa! Muito obrigada por teres respondido a este desafio :)

Afonso Cruz também está na minha lista. E, embora não tenha incluído os restantes, adoro a escrita de todos *-*