Inês
Escapaste-me entre os dedos.
Quando te sinto perto, quase a agarrar-te 
Viras as costas, fechas os olhos e corres
Corres para bem longe, e fico apenas com a tua sombra
E sabes que mais? Odeio a tua sombra
É gelada, negra, negra e vazia
Porque não olhas por cima do ombro 
E não me vês? 
Olha-me, vê-me, lê-me 
Sei que nada volta atrás
O que foi, foi e acabou
Mas não deixes morrer
Será que estás na tua atmosfera ?
Gostas do ar que respiras? 
Ás vezes apetece-me sugá-lo
Para que te sintas sufocar e repares em mim
Ás vezes quero apertar-te bem, com muita força
Para que sintas os ossos quebrarem e repares em mim
Ás vezes quero deixar-te no escuro 
Para que me peças que acenda a luz
Queria que isto fosse tudo um sonho mau 
E que quando acordasse 
Tu estivesses bem do meu lado 
Como quando éramos crianças
E partilhavámos o mesmo quarto , o mesmo mundo 
Volta a cantar para aquele microfone do nosso rádio do Karaoke
Volta a pedir-me incansavelmente para jogar jogos contigo, até eu ceder por fim
Pede-me para dormir contigo 
Pede-me para te aconchegar os lençóis  
E beijar-te de boa noite
Deixa-me pedir-te um abraço 
Deixa-te ser abraçada
Fecha os olhos comigo e voa
Até à Terra do Nunca
Onde as crianças nunca deixam de o ser
Onde os sonhos são reais
E a nossa casa é uma bolha mágica
Com um sofá onde nos deitamos as duas 
E admiramos a lua pela janela 
Para sempre.
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